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Ano 2 Número 15 Março 2000 |
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Um mergulho no tempo geológicoA megafauna do Pleistoceno |
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A partir do início do Quaternário, a bacia de Sergipe-Alagoas e outras áreas da costa brasileira ficaram sujeitas essencialmente aos processo erosivos responsáveis pela configuração morfológica que podemos observar atualmente. Neste período, individualizaram-se os estuários, os campos de dunas costeiros, as planícies fluviais e outras feições geomorfológicas. Variações relativas do nível do mar, associadas aos últimos períodos glaciais, causaram o avanço e o recuo da linha de costa, deixando como evidências desta movimentação algumas falésias esculpidas nos sedimentos continentais depositados durante o Terciário. |
Distribuição esquemática simplificada da vegetação e dos campos de gelo e geleiras na América do Sul durante o último período glacial, há 24.000 anos (adaptado de George H. Michaels e Brian M. Fagan, 1998). | |
Embora tenham surgido no Triássico e tenham sido
dominantes no Terciário, os mamíferos sofreram profundas mudanças durante o
Quaternário. Ao final do Pleistoceno, este grupo sofreu grandes extinções de caráter
global. Só na América do Sul, cerca de 46 gêneros de grandes mamíferos foram extintos.
As duas últimas grandes glaciações ocorridas há 78 mil e 24 mil anos tiveram, sem dúvida, um papel importante nestas extinções. A desestabilização dos habitats causada pelas acentuadas mudanças climáticas e a caça predatória praticada pelos nossos ancestrais são as hipóteses mais prováveis para explicar estas extinções. Durante o Pleistoceno, a vegetação que cobria grande parte da América do Sul era dominada por gramíneas e arbustos. Savanas concentravam-se na porção central do continente, enquanto uma floresta tropical já se desenvolvia ao longo do vale do Amazonas. |
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O clima relativamente seco e árido forçava a concentração dos grupos animais ao redor de lagoas ou outros refúgios ecológicos, como as cavernas e grutas, onde as condições de temperatura e suprimento alimentar eram mais adequadas. E são exatamente nestes antigos refúgios que concentram-se hoje os achados de fósseis deste período. São comuns os gliptodontes (parecidos com tatus gigantes), mastodontes (de certo modo semelhantes aos atuais elefantes), eremotérios (um tipo de bicho-preguiça gigante), o Arctotherium (um tipo de urso) e o Smilodon, mais conhecido como tigre dentes-de-sabre, dentre outros. Nos estados de Sergipe e Alagoas restos destes animais são encontrados principalmente na atual região semi-árida, em cacimbas ou pequenos açudes, que até hoje servem à população local. |
Mammut americanus (Cuvier), do Holoceno de New York, EUA. Acervo do Senckenberg Museum, Frankfurt am Main, Alemanha (Foto: Wagner Souza Lima). |
Expedição bacia de Camamu
Mais de 1000 km percorridos de carro, 20 horas de viagens em saveiros e até mesmo numa canoa, além de várias horas de caminhadas. Este é um balanço resumido da expedição que a fundação realizou no início do mês ao Cretáceo marinho da bacia de Camamu, situada no litoral centro-sul do Estado da Bahia. Participaram dos trabalhos Edilma de J. Andrade, Cynthia L. de C. Manso, Wagner Souza Lima e Aurivonele F. Lima, além de Murilo Marchioro, Anna Carolina M. de Oliveira, Giulia M. Marchioro e Nair Souza Lima. | |
Afloramento da Formação Algodões na Ilha Grande, baía de Camamu, Bahia (Foto: banco de imagens da Fundação Paleontológica Phoenix). | |
Os abundantes afloramentos são de difícil acesso, principalmente por se encontrarem dispersos em várias ilhas na baía de Camamu e ao longo da península de Maraú. Foram também visitados afloramentos na ilha de Boipeba, a norte desta baía. Um grande número de exemplares foi coletado, estando já em fase de estudo pela equipe da fundação. Aproveitando a oportunidade, foram feitas coletas também na seqüência mais basal da bacia, em sedimentos de provável idade jurássica. | |
Afloramento da Formação Algodões na sua localidade-tipo, próximo ao povoado de Porto dos Algodões, na península de Maraú, Bahia (Foto: banco de imagens da Fundação Paleontológica Phoenix). |