Nos dias atuais, por meio de um computador ou smartphone, acessamos de forma fácil e imediata informações de diversas partes do mundo, sobre as mais diversas áreas do conhecimento. Porém, muitas vezes não nos damos conta de que muitas dessas informações levaram muito tempo para serem adquiridas e, em sua maioria, foram resultantes do trabalho árduo de um enorme número de pessoas.
A facilidade com que hoje nos deslocamos para pontos longínquos do planeta, a disponibilidade de estruturas de apoio como estradas, veículos, restaurantes e alojamentos, mesmo que simples, faz tudo parecer muito corriqueiro e banal. Com poucas exceções, qualquer lugar parece ser muito acessível, somente o espaço, além do nosso planeta, é ainda um grande mistério.
Contudo, ao nos voltarmos para o passado, vemos que muito do conhecimento, incluindo o científico, do qual usufruímos nos dias atuais deveu-se à coragem, ousadia e risco de muitos personagens, conhecidos e desconhecidos da nossa história – muitos desses intrépidos exploradores pagaram com a própria vida por esta busca ao desconhecido.
O que sabemos sobre essa história deve-se aos registros deixados sob a forma de cartas, mapas ou livros, p. ex. Mas, por outro lado, muito do conhecimento outrora gerado pode ter sido perdido, seja pela falta de registro escrito, seja por não ter sido preservado desta forma, ou mesmo ter sido destruído com o tempo.
Numa época em que a fotografia não tinha sequer sido descoberta, os registros visuais, se existiam, deviam-se às habilidades artísticas do viajante – em muitos casos fica claro que não havia tal habilidade, pois apenas se publicaram os relatos escritos. Mas, por vezes, artistas eram encarregados de reconstruir as imagens com base no relato dos próprios viajantes, o que nem sempre conseguia ser fiel à realidade. E, muitas vezes, as ilustrações eram propositalmente levadas para o campo do extraordinário, pois assim, tornavam as obras mais atraentes aos poucos que tivessem acesso a ela.
Às vezes, até podemos ter uma vaga idéia de fatos que ocorreram no passado por meio de histórias passadas oralmente de geração para geração, embora a precisão dos fatos nem sempre seja confiável. E isso acaba gerando “lendas”, histórias quase fantásticas, como cidades e continentes perdidos, ou montanhas de ouro e prata… |
Podemos dizer que o registro da pesquisa científica no Brasil iniciou-se a partir do momento em que os europeus aportaram no nosso continente. Porém, os indígenas que habitavam estas terras já dispunham de um conhecimento que, embora não registrado em livros, era passado de gerações a gerações através da comunicação oral. Mas, certamente muito do conhecimento adquirido foi perdido com o extermínio generalizado de muitas etnias com a conquista européia. |
A história da humanidade sofreu uma grande reviravolta no final da idade Média. Até então, no imaginário dos povos da idade Média, os oceanos, além do limitado Mar Mediterrâneo, eram povoados por monstros e seres mitológicos e terminariam como profundos abismos, onde se enxergava o horizonte. |
Contudo, por diversas questões, principalmente políticas, vários povos europeus deram-se conta de que era necessário definir novas rotas comerciais fora das áreas terrestres já conhecidas. E os oceanos eram a alternativa existente. Mas, com o temor do que haveria nos oceanos e além do horizonte, enfrentar os oceanos era enfrentar um mundo completamente desconhecido. Assim, com a ousadia e coragem dos navegadores ibéricos na busca destas rotas comerciais alternativas deu início ao período das grandes navegações. E assim começa a nossa história. |
Após a bem sucedida de Vasco da Gama à India, em 1497, na mais longa viagem oceânica até então realizada, o rei D. Manuel nomeou Cabral capitão-mor de uma expedição à Índia. |
O que sucedeu depois já é bem conhecido – aparentemente por ter errado o caminho, acabou aportando no Brasil, após cerca de 40 (!) dias atravessando o Atlântico. E terras completamente inexploradas surgiram para o Velho Mundo. Cabral pode, então, ser considerado o primeiro explorador do nosso país – mesmo com uma curta estadia (cerca de 10 dias) nas terras recém-descobertas. O que os portugueses viram está narrado na carta de Caminha. |
Século XVI
Pero Vaz de Caminha estava na esquadra de Cabral quase que por um acaso: havia sido nomeado escrivão de uma feitoria estabelecida pelos portugueses em Calicute, na Índia, para onde se dirigia.
Por sua habilidade com a escrita, acabou sendo o responsável pela famosa carta onde relata a descoberta das novas terras, ao rei D. Manuel I. Acredita-se que tenha morrido logo depois, já em Calicute, numa batalha contra um ataque muçulmano à feitoria onde prestava seus serviços.
Caminha marcou seu nome na história exatamente por esta carta, mas existem dois outros registros, menos conhecidos sobre a descoberta: a Relação do Piloto Anônimo, cujo original se perdeu, e a Carta do Mestre João. Esta última apresenta a primeira descrição conhecida da constelação do Cruzeiro do Sul. Mas, por mais incrível que possa parecer, a existência destas cartas só foi descoberta no final do século 18, demonstrando o segredo com que a coroa portuguesa guardou os relatos da sua descoberta.
Século XVI - OS AVENTUREIROS
Século XVI
Com a notícia da descoberta de novas terras se espalhando pela Europa, vários estrangeiros se interessaram por vir ao país – não exatamente para fazer pesquisas. Piratas, contrabandistas e mercenários – pessoas que ofereciam seus serviços, principalmente como soldados, para quaisquer nações que pagassem pelo seu trabalho, dirigiram-se para diversos pontos do país, principalmente ao longo do litoral. Hans Staden, aventureiro e mercenário alemão, foi um dos primeiros estrangeiros a deixar registros sobre o Brasil nesta fase. Provavelmente muitos outros estrangeiros estiveram no país, mas poucos deixaram relatos e muitos registros podem ter sido perdidos. Temos, por exemplo, muitos mapas, mas como eles teriam sido feitos?
Mesmo para um mercenário, uma viagem deste tipo àquela época não era nada fácil! Apresentava inúmeros riscos de vida, que já se iniciavam na partida do porto europeu. Duravam vários meses em um mar pouco conhecido, ao sabor dos ventos que nem sempre colaboravam, ou sujeito a tempestades monumentais, em embarcações precárias, superlotadas, com pouca água e comida. Muitos naufragavam antes mesmo de chegar ao destino.
Hans Staden esteve duas vezes no país. Na primeira, em 1547, com apenas 22 anos, esteve em Pernambuco, onde lutou junto à tropa de Duarte Coelho no combate aos índios Caetés, retornando à Europa no final de 1548.
Na segunda, em 1549, rumo ao rio da Prata, não teve muita sorte! Naufragou no litoral de Santa Catarina e, mudando de planos, seguiu para São Vicente. Em 1553, naufragou novamente e foi capturado pelos Tupinambás. Por pouco não foi devorado por eles, que o mantiveram vivo por ser útil nos combates que travavam contra tribos inimigas e mesmo contra os portugueses. Nove meses depois foi resgatado por um corsário francês e retornou à Europa.
Publicou suas aventuras no livro “Duas viagens ao Brasil” na Alemanha, em 1557, relatando para o velho mundo os costumes, principalmente antropofágicos, dos habitantes nativos do Brasil, que se tornaram célebres pelas ilustrações de Théodore de Bry.
Século XVI
Com a descoberta das novas terras, muitas expedições privadas ou financiadas pela coroa portuguesa começaram a entrar pelo interior do Brasil – além de realizar a exploração territorial, possibilitava a captura e escravização de indígenas e a descoberta de novas riquezas – inclusive buscar pelas supostas minas de prata e ouro do lendário “Eldorado”. Começou então o que se denominou de “Entradas e Bandeiras”. As entradas, de um modo geral, correspondiam às expedições financiadas pela coroa portuguesa. Já as bandeiras eram de interesse essencialmente particular.
As primeiras “entradas” conhecidas ocorreram no nordeste do Brasil – além da exploração do novo território, possibilitava o estabelecimento de áreas para criação de gado, roçados, e a exploração de riquezas minerais. Um objetivo menos nobre foi a captura e escravização de índios para trabalho nas novas lavouras. Os organizadores destas expedições, também denominados de “sertanistas”, buscavam a obtenção de títulos, honras e benefícios junto à coroa, como reconhecimento pelos serviços prestados – numa terra sem muitas regalias, era uma possibilidade incontestável de ascensão social.
Século XVI
Gabriel Soares de Sousa foi um português que se mudou para o Brasil por volta de 1570, com cerca de 30 anos. Um seu irmão já explorara o rio Paraguaçu, na Bahia, em direção à sua nascente e ao alto rio São Francisco, onde teria achado metais preciosos e mesmo diamantes. Com a morte deste irmão sete anos antes, herdou parte da sua fortuna e os direitos de explorar sua rota. Contudo acabou estabelecendo um engenho de açúcar no Recôncavo baiano, onde prosperou e ficou rico.
Em 1584 retornou a Lisboa, onde publicou, três anos depois, a obra “Tratado descritivo do Brasil”, um dos mais importantes relatos do Brasil no primeiro século do descobrimento. Nele apresentou uma breve síntese acerca do descobrimento do Brasil e sobre a geografia do seu litoral, desde o rio Amazonas até o rio da Prata. Não fica claro se esta parte da obra se baseou em observações tomadas em viagens suas ou se em relatos alheios. Citou diversos pontos da costa entre os rios Sergipe e Real por onde os franceses retiravam o pau-brasil, aconselhando o estabelecimento de povoações para inibir a retirada ilegal. Descreveu ainda muito da geografia, flora e fauna dos arredores de Salvador, assim como sobre diversas tribos indígenas.
Seu livro foi escrito nesse período em Lisboa, enquanto aguardava a concessão de uma série de privilégios solicitados à corte durante a união ibérica. Obteve algumas das concessões solicitadas somente em 1590, porém não teve muito êxito em usufruí-las: partiu de Lisboa em Abril de 1591, e naufragou próximo à foz do rio Vaza-Barris, em Sergipe, três meses depois. Graças à recente colonização da área, não caiu vítima dos índios. Rumou para a Bahia, mas faleceu pouco tempo depois, enquanto explorava o rio Paraguaçu, nas proximidades da atual Mucugê.
Século XVI
Belchior Dias Moreia é um exemplo interessante de como um sertanista, movido por interesses de obtenção de riquezas e ascensão social, perpetuou uma lenda por séculos na história do Brasil.
Nascido no Brasil, percorreu os sertões da Bahia e de Sergipe entre o Rio Real e a Serra de Itabaiana, em busca de riquezas minerais. Alardeou a descoberta de ricas minas de prata na região de Itabaiana, em Sergipe. Conta-se que viajou várias vezes para a Europa a fim de conseguir títulos de nobreza em troca da localização das minas. Mas não teve sucesso na empreitada, fazendo com que jamais divulgasse a sua localização.
Acabou contribuindo com a propagação da história do “Eldorado”, lendária cidade construída em ouro e prata, até ao menos o séc. 18 – fato que inclusive influenciou os interesses holandeses no Nordeste brasileiro. Nos mapas elaborados pelos holandeses no século 17, como mostrado neste mapa do cartógrafo Georg Markgraf publicado em 1647, constam várias marcações de “minas” na região de Itabaiana, provavelmente para averiguação das riquezas nas novas terras a conquistar.
Cerca de 200 anos depois, em 1839, foi encontrado um manuscrito datado de 1753, esquecido na Real Biblioteca, atual Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Denominado de “Manuscrito 512”, o documento narra a descoberta de ruínas de uma cidade perdida e desconhecida, no interior da Bahia, por um grupo de bandeirantes. A narrativa mistura elementos de civilizações antigas européias, com paisagens do sertão baiano do alto Paraguaçu, e levantou especulações sobre a veracidade da narrativa – constitui um registro histórico do que hoje conhecemos como fake news.
Século XVI
Muitas ordens religiosas vieram para o Brasil, estabelecendo missões para conversão dos índios pagãos em vários pontos do interior, principalmente no período colonial. O padre jesuíta português Fernão Cardim chegou no Brasil em 1583, com apenas 24 anos. Como secretário do visitador da companhia, percorreu as capitanias da Bahia, Pernambuco, Ilhéus, Porto Seguro, Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Vicente. Esteve em várias aldeias indígenas do Recôncavo baiano e no litoral ao norte de Salvador, local onde permaneceu por mais tempo.
Deixou uma volumosa obra escrita entre 1583 e 1601. As duas primeiras, intituladas “Do clima e terra do Brasil” e “Do princípio e origem dos índios do Brasil”, foram publicadas originalmente em inglês, em 1623. Contudo, a última, intitulada “Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuítica” foi publicada apenas em 1847. Um conjunto das três obras com o título “Tratados da Terra e da Gente do Brasil” foi publicado em 1925, tornando-a mais conhecida.
As invasões neerlandesas (mais conhecidas pelo termo “holandesas”) no Nordeste brasileiro constituem o mais significativo conflito do Brasil colônia. Ocorreu durante o que se denominou de “União Ibérica” – a união entre as monarquias de Portugal e Espanha entre 1580 e 1640 – quando Portugal ficou sob controle da coroa espanhola. As invasões se deram por motivos políticos, mas buscavam, principalmente, retornos econômicos. Após vários saques pontuais, iniciados em 1595, e tentativas de invasão desde 1598, os sucessos foram obtidos a partir de 1624, com a invasão de Salvador (que durou um ano) e, principalmente, com a tomada de Olinda e do Recife, que se estendeu entre 1630 e 1654.
Independente do mérito da questão, o episódio propiciou um enriquecimento no conhecimento científico e artístico como nunca antes aconteceu no Brasil colônia, principalmente com a vinda de um governador para o Brasil Neerlandês a partir de 1636, o nobre alemão-neerlandês Johan Maurits van Nassau-Siegen, a quem conhecemos como “Maurício de Nassau”.
Século XVII
Johan Maurits van Nassau-Siegen, conhecido no Brasil como “Maurício de Nassau”, foi governador do Brasil neerlandês entre 1636 e 1644. Admirador das artes e muito erudito, Nassau trouxe em sua comitiva vários cientistas, cartógrafos, astrônomos, teólogos, arquitetos, médicos e pintores.
Partiu do porto de Texel em Outubro de 1636, chegando ao Recife praticamente após três meses de viagem! Em seus seis anos de administração, Recife foi ricamente urbanizada, tornando-se, junto a Salvador, uma das mais cosmopolitas cidades das américas à época. Seu gosto pela cultura e pelas artes foi o que, de certo modo, o impulsionou a vir ao Brasil – poucos anos antes começara a construir uma luxuosa casa em Haia, a Mauritishuis, e precisava de muitos mais recursos para concluir a obra. E esses recursos viriam dos vantajosos ganhos que teria no acordo feito para vir ao Brasil.
Século XVII
Embora não tenha vindo ao Brasil, Caspar Barlaeus foi o mais conhecido relator dos feitos de Nassau durante sua administração do Brasil Neerlandês. |
O relato foi publicado na obra “Rervm per octennivm in Brasília”, ricamente ilustrada com gravuras da autoria de Frans Post, que foi membro da comitiva de Nassau. |
Século XVII
Mais conhecido pelo nome aportuguesado “Guilherme Piso”, foi um médico e naturalista neerlandês. Veio para o Brasil pouco depois de Nassau, com apenas 26 anos, pois o médico que acompanhava Nassau faleceu logo após chegar ao Brasil – as adversidades das viagens não eram nada fáceis!
Piso é considerado um dos fundadores da medicina das regiões tropicais, apresentando informações detalhadas sobre as doenças tropicais, os efeitos tóxicos de plantas e também os seus usos medicinais, publicadas em sua obra “De Medicina Brasiliensi”. Esta obra compõe parte do livro “Historia Naturalis Brasiliae”, publicado em 1648, adicionando as observações de Georg Markgraf sobre a flora e fauna brasileiras. Este livro representa uma das mais importantes obras científicas do Brasil até o séc. 19.
Século XVII
Naturalista alemão com formação em matemática, história natural, astronomia e medicina, viveu no Brasil entre 1638 e 1643. Morreu pouco depois, em Luanda, Angola.
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Século XVII
Eckhout foi um dos primeiros pintores europeus a pintar cenas da América. Vindo como parte da missão artística de Nassau, retratou tipos humanos, a flora e fauna da região com uma enorme riqueza de detalhes. |
Parte significativa de sua obra encontra-se hoje no Museu Nacional de Arte da Dinamarca, presente de Maurício de Nassau ao seu primo Frederico III, rei da Dinamarca. |
Século XVII
Ao contrário de Eckhout, Frans Post foi um pintor mais paisagista, e um dos primeiros pintores europeus a pintar panoramas da América.
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Após a retirada dos holandeses, em 1654, os portugueses perceberam que a recuperação do território foi apenas fortuita, resultante de circunstâncias que poderiam não mais ocorrer. Desde então, Portugal procurou vetar o acesso das suas possessões a qualquer estrangeiro. É claro que aventureiros certamente apareceriam num país tão vasto e com litoral tão amplo. Mas levando em conta o olhar científico, o progresso acerca do conhecimento do Brasil praticamente ficou estagnado, assim permanecendo até a vinda da família real para o Brasil no início do séc. 19. O decreto da “Abertura dos Portos”, primeiro ato assinado pelo príncipe regente D. João, durante sua estadia em Salvador, em 1808, simboliza esta abertura do Brasil ao mundo. |
Naturalistas alemães, chegaram ao Brasil em 1817 como parte da comitiva da Imperatriz Maria Leopoldina, que vinha da Áustria após seu casamento com D. Pedro I. Spix contava 36 anos de idade, e Martius, apenas 23! |
Partiram do Rio de Janeiro no final de 1817, rumo ao norte, passando por São Paulo, Minas Gerais, Goiás e pela Bahia, até Salvador. Seguiram então para São Luís, atravessando os inóspitos sertões de Pernambuco, Piauí e Maranhão. Em seguida, subiram o curso do Rio Amazonas até a atual divisa com a Colômbia, retornando para a Alemanha em 1820. |
“Na metade do caminho o viajante ouve o bramido da imponente cachoeira do rio Brumado, que se despenha de altura de 150 pés, entre íngremes rochedos. Do topo do caminho, desenrola-se o magnífico panorama do lindo vale de Vila Velha.” |
Na Bahia, viajaram entre Caetité e a atual cidade de Rio de Contas, passando por Vila Velha, hoje Livramento de Nossa Senhora. Seguiram pelo vale do Rio Sincorá até Maracás. Seguiram pela vila de Pedra Branca até chegar a São Félix e, então, Salvador. Depois seguiram viagem até Juazeiro, passando por Feira, Coité, Itiúba e Senhor do Bonfim. |
Spix faleceu pouco tempo depois de retornar à Europa, provavelmente decorrente de alguma doença tropical e das demais adversidades a que foi submetido durante sua expedição pelo interior do Brasil. Apenas pequena parte da obra decorrente da expedição foi publicada antes da sua morte. “Reise in Brasilien” foi publicada em três volumes entre 1823 e 1831. E “Flora Brasiliensis”, foi publicado em 40 volumes entre 1840 e 1906! |
Século XIX
James Henderson foi um viajante e diplomata inglês. Chegou ao Rio de Janeiro em 1819, após cerca de 50 dias de viagem, com carta de recomendação para o cônsul britânico Henry Chamberlain, em busca de um cargo diplomático. |
Como não conseguiu, decidiu percorrer o país, descrevendo sua viagem no livro “A history of the Brazil”, publicado em 1821. |
Século XIX
Numa época em que a sociedade era predominantemente patriarcal, e os viajantes eram em sua quase totalidade homens, Maria Graham destaca-se ainda hoje por ser uma mulher à frente do seu tempo. Casada com um oficial naval escocês, Thomas Graham, morou na Índia, Itália e no Chile, onde enviuvou. Na primeira viagem, chegou por Pernambuco, após 50 dias no mar, dirigindo-se depois à Bahia, onde presenciou o burburinho dos movimentos e lutas pró-independência da Bahia em 1821 e, depois, seguiu para o Chile, onde seu marido faleceu. |
Na sua segunda viagem, em 1823, desembarcou no Rio de Janeiro, onde acompanhou de perto os movimentos imediatos à declaração da independência do Brasil. Retornou ao Brasil em 1824 a convite de D. Pedro I, para ser a preceptora da princesa D. Maria da Glória, sua filha, permanecendo no país até 1825.
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Sua obra constitui o primeiro relato organizado da história do Brasil. Sua observações durante suas permanências no Brasil relatam detalhes da vida social do Brasil e do seu povo, sendo reunidas e publicadas no livro “Diário de uma viagem ao Brasil, e residência lá, durante os anos 1821, 1822 e 1823”. |
Século XIX
Nascido na Escócia, especializou-se em medicina e botânica. Chegou ao Brasil em 1836, com apenas 24 anos, onde permaneceu até 1841. |
Percorreu o Brasil do Rio de Janeiro até o Ceará. Viajou também por Salvador e pelo litoral de Pernambuco, e depois por Alagoas e Sergipe, subindo o rio São Francisco da sua foz até a Ilha de São Pedro, com a intenção de chegar até a cachoeira de Paulo Afonso, o que não era uma viagem fácil! Devido às dificuldades ocorridas durante a viagem, acabou desistindo. |
Em sua permanência no país, coletou mais de 60 mil exemplares enviados para museus e colecionadores da Inglaterra. |
Mudou-se em 1843 para o Ceilão (atual Sri Lanka), então colônia britânica, onde assumiu o cargo de superintendente do jardim botânico. Lá, concluiu sua obra sobre a viagem ao Brasil, “Travels in the Interior of Brazil, principally through the Northern Provinces and the Gold Districts, during the years 1836–41”. Morreu ainda muito jovem, em 1849. |
Século XIX
Muito do conhecimento da navegabilidade do rio São Francisco deve-se aos trabalhos de Heinrich Halfeld. Alemão, lutou contra Napoleão na batalha de Waterloo. Mudou-se para o Brasil em 1825, a convite de D. Pedro I, onde passou o resto da sua vida. |
Em 1852 foi encarregado pelo imperador D. Pedro II do balizamento do Rio São Francisco desde Pirapora até sua foz, construindo cartas hidrográficas utilizadas até hoje. Seu levantamento foi publicado na obra “Atlas e relatório concernente a exploração do Rio de S. Francisco desde a Cachoeira da Pirapora até ao Oceano Atlantico”.
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Século XIX
Robert Avé-Lallemant chegou ao Brasil em 1836, estabelecendo-se como médico no Rio de Janeiro. Retornou à Alemanha, mas decidiu voltar ao Brasil em 1857, como participante da expedição Novara, desembarcando no Rio, porém decidiu abandonar a expedição e viajar sozinho pelo país. |
Viajou pelo sul e norte do Brasil entre 1858 e 1859. Das suas viagens ao norte do país, publicou a obra “Viagem através do norte do Brasil – Reise durch Nord-Brasilien im Jahre 1859” em dois volumes (1859 e 1860). |
Vindo do Rio, passou rapidamente pela “Bahia” (como normalmente os viajantes estrangeiros se referiam à cidade de Salvador, indo para Pernambuco, onde visitou Recife e Olinda. Seguiu para Maceió e de lá, a cavalo, até Penedo, às margens do rio São Francisco. A grande atração para os visitantes estrangeiros nesta região era chegar à cachoeira de Paulo Afonso. E lá ele chegou, a duras penas! Retornando a Penedo, seguiu para Aracaju. À época, Aracaju era uma cidade recém-fundada, havia apenas quatro anos. Deste modo, preferiu seguir para a cidade de Maruim, onde um grupo de comerciantes alemães havia se estabelecido já há alguns anos. Foi recebido pelo comerciante alemão Ernst Schramm e sua esposa, Adolphine. Retornou para a Alemanha definitivamente em 1859. |
Século XIX
Na segunda metade do séc. 19, um jovem pesquisador norte-americano veio ao Brasil, acompanhando o naturalista Louis Agassiz na Expedição Thayer. Este fato mudaria significativamente os rumos da pesquisa geológica do país. Este jovem era Charles Frederick Hartt. Hartt, como era mais conhecido, nasceu em 1840 em Fredericton, uma pequena cidade na província de New Brunswick, atualmente parte do Canadá. Desde cedo mostrou grande aptidão às ciências naturais, o que culminou no convite feito por Agassiz para participar desta expedição.
Hartt encantou-se tanto com o Brasil e sua Geologia que acabou voltando mais quatro vezes, estabelecendo-se definitivamente no país em 1874.
Viajar àquela época, ainda não era tarefa fácil, e Hartt viajou praticamente ao longo de toda a região costeira do Brasil, e ainda pelo interior. Para isso, serviu-se das linhas regulares de vapores que ligavam as principais cidades da costa brasileira, bem como barcos menores, cavalos ou mesmo à pé. Em várias visitas, estudou a região costeira do Brasil, entre o Rio de Janeiro e Pernambuco. Realizou os primeiros estudos científicos no arquipélago de Abrolhos e dos fósseis cretáceos de Sergipe. Subiu o rio São Francisco até a cachoeira de Paulo Afonso, que constituía um dos pontos de maior interesse aos visitantes desta região. Percorreu o vale do rio Amazonas, desde a ilha do Marajó até o rio Tapajós, e diversos pontos do litoral entre o Pará e Pernambuco.
Sua obra “Geologia e Geografia Física do Brasil”, publicada em 1870, abrange os estudos efetuados junto à expedição com Agassiz, bem como suas observações obtidas nas viagens posteriores.
Em 1874, sua proposta de criação de um serviço geológico do Brasil recebeu apoio do imperador D. Pedro II. Assim, foi criada a “Comissao Geologica do Império do Brazil”, em 1875. Hartt, contando agora com uma equipe bem maior, ampliou suas pesquisas pelo país, estudando os depósitos diamantíferos da Bahia, a região aurífera de Minas Gerais e os depósitos carboníferos do sul do país. Continuou também os estudos que havia iniciado nos anos anteriores. Suas coleções contribuíram significativamente para o enriquecimento científico do acervo do Museu Imperial, atual Museu Nacional do Rio de Janeiro.
Tão prolífica produção científica e dedicação acabou subitamente em 1878, quando morreu, supostamente de febre amarela, pouco tempo depois da comissão geológica ter sido extinta. Contudo, sua extraordinária capacidade de pesquisa e de formar excelentes alunos, forneceu ao Brasil competentes pesquisadores que deram continuidade aos seus ideais, como John Casper Branner e Orville Derby.
Século XIX
Nascido na Inglaterra, Richard Burton foi um dos grandes exploradores do planeta no séc. 19, viajando pela Europa, África, Ásia e Brasil. A denominação de “aventureiro” é mais do que perfeita para descrevê-lo. Polêmico, admirado por muitos e odiado por tantos outros, falava fluentemente cerca de 30 idiomas e diz-se que era um mestre nos disfarces, de modo que isso lhe possibilitava estar em lugares proibidos a povos de outras etnias e religiões.
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Dentre suas várias aventuras, foi um dos descobridores dos lagos Tanganica e Vitória, na África. No Brasil, navegou o São Francisco de canoa desde um de seus afluentes (rio das Velhas), em Sabará (MG), até a cachoeira de Paulo Afonso (BA), e depois de vapor, de Piranhas (AL) à sua foz numa viagem que durou três meses (de 07/08 a 07/11/1867). |
A canoa utilizada, hoje rara de se ver, denominava-se “ajoujo”, e lembra um catamarã – consistia em duas canoas atreladas entre si através de uma plataforma, que lhe daria mais estabilidade de navegação em um rio como era o São Francisco à época. Esteve também em Maceió e Aracaju. |
Publicou suas aventuras em dois volumes em 1869, na obra “Explorations of the highlands of the Brazil; with a full account of the gold and diamond mines. Also, canoeing down 1500 miles of the great river São Francisco, from Sabará to the sea”. |
Século XIX
Norte-americano, foi um dos mais destacados alunos de Hartt, com quem colaborou até sua morte.
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Século XIX
Norte-americano, naturalizado brasileiro, foi aluno de Hartt, de quem despertou a atenção desde muito jovem. |
Veio com Hartt ao Brasil com apenas 19 anos, participando da Expedição Morgan. Retornou várias vezes depois, ficando definitivamente desde 1875, sempre trabalhando ao lado de Hartt, com quem colaborou até a morte deste. |
Participou da Comissão Geológica do Império e como voluntário no Museu Nacional. Foi um grande estudioso da Geologia do Brasil, percorrendo grande parte do país em expedições científicas, publicando 125 trabalhos sobre nosso país. |
Esteve em Sergipe e Alagoas realizando estudos ao longo do rio São Francisco e da região costeira destes estados. Foi através de Derby que a paleontóloga norte-americana Carlotta Joaquina Maury interessou-se por trabalhar com material do Brasil. Devido a diversos desentendimentos relacionados a interferências políticas no Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, o qual dirigia, entrou em depressão e cometeu suicídio em 1915. |
Século XIX
Teodoro Sampaio é um raro exemplo de preto que obteve sucesso na sociedade ainda escravocrata do final do séc. 19. Baiano, filho de uma escravizada e de um padre, tornou-se engenheiro em 1878, graças aos esforços do pai. Nomeado por D. Pedro II, foi membro da “Comissão Hidráulica”, que tinha por objetivo estudar os melhoramentos dos portos brasileiros e a navegação interior dos grandes rios da costa do país. Como participante desta comissão, realizou expedições ao longo do rio São Francisco (1879) e pela Chapada Diamantina (1880). Com uma alta habilidade para o desenho artístico, deixou-nos belas ilustrações de sua expedição. |
A convite de Orville Derby, que já conhecera enquanto estagiou no Museu Nacional, em 1875, participou da Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo onde, como geógrafo, efetuou o primeiro levantamento geodésico do Brasil. |
Século XIX
Norte-americano, nunca esteve no Brasil, porém estudou parte da coleção obtida por Hartt em suas expedições pelo Brasil, com destaque para aqueles de Sergipe.
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A partir do início do séc. 20, muitos outros pesquisadores contribuíram e ainda contribuem para o conhecimento científico do Brasil.
O progressivo desenvolvimento dos meios de transporte e das facilidades logísticas, principalmente para o deslocamento, alimentação e acomodação tiveram papel importante para esse avanço.
Contudo, todo o conhecimento adquirido até hoje não teria sido possível sem a coragem, ousadia e persistência de homens e mulheres pioneiros, que arriscaram a própria vida para conhecermos um pouco mais acerca do planeta onde vivemos.
Século XX
Norte-americana, de ascendência portuguesa, por parte da avó, foi uma das primeiras mulheres a conseguir estudar numa universidade americana no final do séc. 19. Porém, mesmo tendo uma rica produção científica, nunca conseguiu uma posição em uma universidade, trabalhando como pesquisadora independente ou consultora.
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