Informativo 1999-04

Ano 1

Número 4

Abril 1999

Uma bioconstrução algal (estromatólito) do Permiano de Alagoas (cerca de 270 milhões de anos - Formação Aracaré) A história do Oceano Atlântico contada nas rochas

A bacia de Sergipe-Alagoas e sua importância no estudo da evolução do Atlântico Sul

Neste mês, a Fundação Paleontológica Phoenix adquiriu seu caráter jurídico próprio.

A partir deste momento serão estabelecidos os projetos que irão orientar as atividades da Fundação durante o ano de 1999 e que poderão contar com o apoio de empresas e pessoas físicas interessadas em colaborar na luta pela preservação do nosso patrimônio paleontológico.

Estamos agora com novo e-mail: fund.phoenix@sergipe.com.br. O endereço anterior continua válido, mas com este podemos associar diretamente a fundação ao Estado de Sergipe.

A bacia de Sergipe-Alagoas

A origem da bacia de Sergipe-Alagoas e das demais bacias da costa leste brasileira está diretamente relacionada à separação das placas sul-americana e africana. A separação que deu origem ao desenvolvimento do oceano Atlântico Sul. Embora existam registros sedimentares anteriores a este evento, os mais significativos do ponto de vista do conteúdo fossilífero estão associadas aos sedimentos de origem marinha então depositados. E a bacia de Sergipe-Alagoas apresenta-os em boa parte expostos e completos.

Antes do início da separação, há mais ou menos 140 milhões de anos, no Jurássico, quando os dois continentes ainda estavam unidos, ocorreu um levantamento aproximadamente ao longo da costa atual, margeando grandes depressões. Estas depressões foram preenchidas por sedimentos de origem fluvial e lacustre. Em Sergipe temos registrada nesta época uma grande quantidade de troncos fósseis de coníferas, resquícios das florestas que provavelmente cresciam ao redor destas depressões.

A separação foi iniciada efetivamente como uma grande fratura que se propagou de sul para norte, originando um longo e estreito golfo. Neste golfo foram depositados espessos pacotes de sais e à medida que o mar avançava e a separação prosseguia, as primeiras camadas francamente marinhas foram depositadas.

Estas camadas são representadas por calcários, folhelhos e também arenitos. As camadas de origem marinha são em geral muito mais fossilíferas que aquelas depositadas no continente.

Nas rochas marinhas desta época (entre 115 e 65 milhões de anos) são bastante freqüentes os amonóides, um molusco cefalópodo, parecido com os atuais Nautilus, que atingia grandes dimensões, mas que foram extintos ao final do Cretáceo. Seus restos fossilizados são bastante comuns na bacia de Sergipe-Alagoas, onde representam um fóssil de grande importância na bioestratigrafia, permitindo a correlação com estratos sedimentares de outras partes da Terra. Muitos outros fósseis marinhos também estão associados: bivalvios, gastrópodos, equinóides , corais, algas calcárias, peixes, répteis, etc.

Há cerca de 65 milhões de anos o mar recuou, deixando exposta em superfície as camadas depositadas ao longo de milhões de anos. Após este recuo, parte destas camadas foram erodidas.

No Plioceno (há cerca de 4 milhões de anos) foram depositadas espessas camadas de sedimentos de origem continental, onde podem ser encontrados fragmentos de troncos e folhas. Há menos de 2 milhões de anos viveram nesta região e praticamente pelo resto do nordeste grandes animais como mastodontes, preguiças, tigres dentes-de-sabre, etc, cujos restos são comumente encontrados em antigas lagoas ou grutas, que eram áreas onde estes animais conseguiam alimento ou moradia.

Mas estes não são os fósseis mais antigos da bacia de Sergipe-Alagoas. Há cerca de 270 milhões de anos, durante o Permiano, muito antes da separação entre América do Sul e África, um mar cobria parte destas terras. Suas evidências ficaram registradas sob a forma de construções de algas unicelulares e bactérias, numa estrutura denominada “estromatólito”. Os estromatólitos constituem inclusive uma das evidências de vida mais antigas encontradas na Terra, pois alguns chegam a possuir quase 3 bilhões de anos.