Informativo 1999-05

Ano 1

Número 5

Maio 1999

Florinites sp., um grão de pólen de uma gimnosperma do final Carbonífero de Sergipe e Alagoas (cerca de 300 milhões de anos - Formação Batinga). Aumento 500x. Foto: Uesugui & Santos.

Um mergulho no tempo geológico

Como era a região de Sergipe e Alagoas há 300 milhões de anos, final do Carbonífero

Neste mês, a Fundação Paleontológica Phoenix inicia a estruturação dos primeiros projetos a serem enviados à Comissão Nacional de Incentivo à Cultura do Ministério da Cultura. Os projetos iniciais estão sendo definidos no intuito de cumprir parte dos objetivos para a qual a fundação foi constituída, consistindo em metas de longa duração.

Além destes projetos, outros projetos de menor porte estão sendo definidos, envolvendo principalmente o resgate de material paleontológico em áreas de risco e a preservação de afloramentos representativos da história geológica da nossa bacia.

A partir deste número começamos a contar, de uma forma bastante simplificada, como ocorreram as mudanças geográficas, ambientais e climáticas da área compreendida pela bacia de Sergipe-Alagoas desde sua origem, e a influência destas mudanças no registro fóssil. Começamos pelo final do Carbonífero, há cerca de 300 milhões de anos. Vamos ver que muita coisa mudou desde esta época.

Geologia: Sergipe-Alagoas durante o Carbonífero

Pode parecer estranho, mas há 300 milhões de anos, geleiras cobriam parte dos Estados de Sergipe-Alagoas. Pelo menos é o que se pode deduzir com base na interpretação dos registros deixados nas rochas depositadas naquela época.

Rochas desta idade afloram na região de Igreja Nova, no Estado de Alagoas e entre Japoatã e Propriá, no Estado de Sergipe, mas são comuns em subsuperfície em outras regiões da bacia. Com exceção de alguns arenitos supostamente do Cambriano ou final do Pré-Cambriano (entre 600 e 550 milhões de anos) que ocorrem na região de Estância, em Sergipe, estas rochas constituem os registros mais antigos da instalação de uma bacia sedimentar na região.

Vale à pena lembrar que nesta época os processos de separação entre as placas africana e sul-americana, que deram origem ao oceano Atlântico Sul ainda não haviam sido iniciados, e que estas massas continentais estavam unidas no que se denominava Gondwana.

Um geleira recente – retrato de Sergipe e Alagoas no passado? (Foto: Wagner Souza Lima).
As reconstituições paleogeográficas mostram que a região de Sergipe e Alagoas compunha parte de uma grande massa continental situada em altas latitudes no hemisfério sul, estando cobertas por geleiras e grandes calotas de gelo.

Mapa paleogeográfico do final do Carbonífero (cerca de 300 milhões de anos). Sergipe e Alagoas faziam parte da grande massa continental situada próxima ao polo Sul (adaptado de Scotese, 1997).

Os registros de eventos glaciais não são exclusivos da bacia de Sergipe-Alagoas. Outras bacias brasileiras, como as de Tucano Norte (Bahia), Paraná e Solimões-Amazonas também sofreram o mesmo processo.

.Uma das rochas encontradas nesta região é conhecida como diamictito, apresentando características similares ao material atualmente depositado em regiões glaciais. Um outra evidência da existência de geleiras na região nesta época é fornecida pelos pavimentos estriados. Estes pavimentos são gerados pelo atrito de enormes blocos de rocha carregados pelas geleiras sobre a superfície de rochas situadas sob o manto de gelo.
Diamictito – uma das rochas produzidas pela atividade glacial (Foto: Francisco Eduardo G. da Cruz).

As condições climáticas e ecológicas existentes nesta época não eram muito favoráveis à existência de organismos e sua preservação como fósseis. A idade destas rochas é definida com base em pólens e esporos de plantas, que constituem os únicos fósseis encontrados até hoje nestas rochas
Pavimento estriado em Alagoas – indício da passagem de geleiras (Foto: Francisco Eduardo G. da Cruz).