Por Wagner Souza-Lima
POÇÕES DA RIBEIRA
Os Poções da Ribeira constituem uma feição geológico-geomorfológica localizada ao sul da cidade de Itabaiana, no Estado de Sergipe, a pouco mais de 50 km de Aracaju. Constitui um magnífico sítio natural exibindo uma drenagem superimposta formada pela passagem do rio das Traíras através do prolongamento sul da serra de Itabaiana. O leito do rio define um cânion mais suavizado na sua porção norte e profundamente ressaltado mais ao sul, onde, na sua porção mais exuberante, que constitui a saída do cânion, alcança cerca de 100 m de altura e 25 m de largura, na sua parte mais inferior.
Do ponto de vista geológico, o sítio está implantado em rochas metassedimentares do Grupo Miaba, de idade neo-proterozóica (eocriogeniana?; entre 800-850 Ma), envolvendo as formações Itabaiana (quartzitos) e Ribeirópolis (filitos e metargilitos). O sítio encontra-se na margem sul do “Domo de Itabaiana”, uma feição estrutural do tipo braquianticlinal, originada provavelmente ainda no Neo-Criogeniano, antes da deformação regional de toda a faixa dobrada, que ocorreu no final do Proterozóico (no ciclo denominado “Brasiliano”), cujo núcleo é composto principalmente por gnaisses e migmatitos, em relevo negativo, circundado pelas cristas metassedimentares soerguidas nas diversas fases de deformação subsequentes.
O rio das Traíras, responsável pelo delineamento do sítio, faz parte da bacia hidrográfica do Vaza-Barris. Nasce nas proximidades da cidade de Macambira, em Sergipe, nas vertentes orientais da Serra da Miaba, atravessando o setor ocidental do domo, composto por gnaisses e migmatitos do embasamento neo-arqueano/paleoproterozóico, cujo relevo é relativamente aplainado. A pouco mais de 3 km antes do sítio em questão (ao norte), o rio das Traíras encontra-se represado pela barragem da Ribeira, uma estrutura de terra com 26 m de altura e 500 m de comprimento. Isto faz com que o rio, no trecho dos Poções, entre a barragem e o rio Vaza-Barris, tenha normalmente pouca água, que é mais abundante apenas no período das chuvas ou por eventual transbordamento da barragem. Após o sítio, o rio das Traíras encontra-se com o rio Vaza-Barris em sua margem esquerda, depois de percorrer pouco mais de 3 km.
O setor mais visitado do sítio é o da desembocadura do cânion. Nele, o rio das Traíras cortou os quartzitos da Formação Itabaiana, os quais, nesta área, apresentam acentuado mergulho (em torno de 45°). O rio ziguezagueia pelas rochas formando poços de profundidades variadas (informações não verificadas indicariam que o poço mais externo, ainda nos quartzitos, apresenta profundidade superior a 12 m) até formar um pequeno lago, de fundo arenoso, instalado sobre rochas da Formação Ribeirópolis.
Percorrer o cânion não é muito fácil, principalmente devido à sua restrita entrada, ao elevado ângulo de mergulho das camadas no trecho inicial e ao grande poço nela existente. Porém, com os devidos cuidados, é uma caminhada prazerosa.
A vegetação predominante é do tipo savana gramíneo-lenhosa, com florestas-de-galeria localizadas em alguns trechos internos ao cânion e, em maior extensão, após a desembocadura do mesmo.
Como chegar
Chegar até o local não é difícil, mesmo em carros não tracionados. O acesso se dá pela BR-235 até o povoado de Rio das Pedras. Dois quilômetros adiante, toma-se o acesso à esquerda (SE-102) para o povoado da Ribeira. Todo o trajeto é facilmente roteável.
Coordenadas do sítio: 10°49’50″S; 37°27’00″O