Por Wagner Souza-Lima
O geólogo norte-americano John Casper Branner (4 de Julho de 1850 – 1 de Março de 1922) foi, junto a Charles Frederick Hartt e Orville Derby, um dos pioneiros da Geologia do Brasil. Nascido em New Market, no Tennessee, aos 19 anos mudou-se para Ithaca, no Estado de New York, onde ingressou na Universidade de Cornell em 1870. Lá, foi aluno de Hartt, que logo percebeu o interesse e o potencial científico de seu jovem aluno.
Mesmo sem concluir seu curso, foi convidado por Hartt para viajar com ele ao Brasil em 1874, onde este tentava estabelecer um serviço geológico. Assim, participou da Comissão Geológica do Império do Brasil, criada em 1875, onde trabalhou até 1878, ano em que a Comissão foi extinta e Hartt faleceu precocemente. Como participante da Comissão, foi um dos pioneiros no uso de fotografias geológicas na ilustração científica, compondo um rico acervo de imagens da Geologia do Brasil, em parceria com o fotógrafo Marc Ferrez.
Passou um ano trabalhando como geólogo assistente na região diamantífera próxima a Serro, em Minas Gerais, contratado por uma empresa sediada em Boston, nos Estados Unidos.
Retornou para os Estados Unidos em 1881. Através da troca de correspondência com o inventor Thomas Edison, foi encarregado de retornar à América do Sul para pesquisar fibras vegetais que poderiam ser úteis como filamentos das novas lâmpadas elétricas inventadas por Edison.
Apenas em 1882 retornou à Universidade de Cornell para concluir sua graduação. Trabalhou em seguida no Serviço Geológico da Pennsylvania e em 1885 concluiu seu doutoramento na Universidade de Indiana, onde assumiu o cargo de professor de Geologia até 1891. Em 1887, foi um dos responsáveis pelo restabelecimento do Serviço Geológico do Arkansas, criado em 1857, mas que só havia funcionado efetivamente por três anos.
Em 1891 assumiu o cargo de professor de Geologia na recém-criada Universidade de Stanford, na Califórnia, a convite do biólogo David Starr Jordan, seu amigo desde o período em Indiana, e então reitor da universidade. Quando Jordan se aposentou em 1913, Branner assumiu o cargo de reitor, permanecendo até 1916, quando se aposentou.
Apesar de uma carreira aparentemente dedicada à geologia dos Estados Unidos, Branner não desprezou os laços estabelecidos com o Brasil. Enquanto esteve em Stanford, coordenou duas expedições científicas ao Brasil, a primeira em 1899, em parceria com o engenheiro Alexander Agassiz (filho do naturalista Louis Agassiz), e a segunda entre 1907 e 1908, com o suporte de Richard Penrose.
Ainda em 1890, quando era professor em Indiana, publicou o artigo “The Cretaceous and Tertiary Geology of the Sergipe-Alagôas Basin of Brazil”
Em 1911 organizou uma terceira expedição ao Brasil (Stanford Expedition) no intuito de explorar questões decorrentes da teoria evolucionista de Darwin – as causas da evolução a partir da divergência de caracteres das espécies separadas por barreiras naturais. Com seu grupo, visitou Belém, Fortaleza e Natal. Parte do grupo dirigiu-se para Manaus, subindo o rio Madeira até a Bolívia, enquanto outra parte rumou para a Chapada Diamantina na Bahia, encerrando a viagem no Rio de Janeiro. Parte desta expedição teria tido o suporte do governo brasileiro, que buscava determinar o efeito do enorme volume de água doce trazido pelo rio Amazonas sobre a biota marinha.
Nestas viagens, ele normalmente tinha a companhia de Orville Derby, seu colega da Universidade de Cornell, que permanecia como residente no Brasil desde a época dos trabalhos da Comissão Geológica, e que desde 1906 havia restabelecido um serviço geológico no país.
Além de mais de uma centena de trabalhos sobre a Geologia do Brasil, publicou o primeiro livro de Geologia escrito em língua portuguesa, “Geologia Elementar”, em 1915, assim como uma gramática do Português.
Além de uma extensa produção científica, Branner foi um bem sucedido professor, formando importantes nomes da geologia e engenharia de minas dos Estados Unidos. Morreu em Palo Alto, na Califórnia, em 1922.
Para saber mais:
- Branner, J. C. 1890. The Cretaceous and Tertiary Geology of the Sergipe-Alagoas Basin of Brazil. Transactions of the American Philosophical Society, 16: 369-434, 5 estampas.
- Branner, J. C. 1899. A geologia cretacea e terciaria da baciado Brasil Sergipe-Alagoas. Typographia do “O Estado de Sergipe”, Aracaju, 170pp.
- Branner, J. C. 1901. The oil-bearing shales of the coast of Brazil. Transactions of the American Institute of Mining Engineers, 30: 537-554.
- Branner, J. C. 1915. Geologia Elementar. Rio de Janeiro, Francisco Alves & Cia, 396 pp.
- Branner, J.C. 1919. Outlines of the geology of Brazil to accompany the geologic map of Brazil: Bulletin of the Geological Society of America, 30 ( 1): 189–338.
- Brice, W. R. & Figueirôa, S. F. de M. 2022. John Casper Branner (1850–1922): Rock Star in Two Countries. GSA Today, July, 36-37.
- Jordan, D. S. 1922. JOHN CASPER BRANNER. Science, 55(1422): 340–341.
- Oliveira, A. L. de, 2014. O litoral do Nordeste do Brasil como objeto científico darwinista: as prospecções de John Casper Branner, 1899-1911.
- Souza-Lima, W. & Mello, A. L. de, 2024. John Casper Branner – Uma mini-biografia. https://youtu.be/wY34irH12sI