Carlotta Joaquina Maury

Por Wagner Souza-Lima

Há 146 anos nascia em Hastings-on-Hudson, no Estado de New York, Estados Unidos, Carlotta Joaquina Maury (1874-1938). Descendente de bisavó portuguesa e avó brasileira, foi uma das mais importantes estudiosas da paleontologia brasileira.

Com 17 anos estudou no Harvard “Annex” college, onde conviveu com Elizabeth Agassiz, segunda esposa de Louis Agassiz, que teve um importante papel na escolha de sua carreira. Obteve seu PhD na Cornell University, em Ithaca, NY, em 1902, numa época em que poucas mulheres eram aceitas como alunas até mesmo por alguns professores naquela universidade!

Inteligente e determinada, superou os muitos obstáculos impostos pela classe acadêmica e pela sociedade, atuando como pesquisadora assistente e professora na Columbia University. No serviço geológico da Louisiana obteve seu primeiro contato com a indústria de petróleo, com a qual posteriormente trabalharia em estudos na Venezuela e Trinidad. Ensinou ainda em um colégio na África do Sul entre 1912 e 1915, começando neste período a colaborar com o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil, por convite de Orville Derby.

Retornando para Hastings em 1916, conseguiu uma bolsa de estudos que permitiu a organização de sua primeira expedição independente a Santo Domingo, no Caribe. Apesar de todo o êxito desta expedição, ela jamais conseguiu uma posição no departamento de geologia em Cornell. Então, a partir de 1918, começou a dedicar parte do seu tempo a pesquisas no American Museum of Natural History em New York, trabalhando também em sua casa em Yonkers, NY.

Sua primeira contribuição para a paleontologia brasileira ocorreu com “Fosseis terciarios do Brazil com descripção de novas formas cretaceas” (1925). No início da década de 1930 já começava a demonstrar dificuldades relativas à sua enfermidade, de modo que seus estudos concentraram-se na sua casa em Yonkers. Publicou “O Cretaceo da Parahyba do Norte” em 1930, além de algumas outras contribuições geradas no período em que esteve ligada ao AMNH. Já bastante debilitada, concluiu em 1936 a última das suas maiores contribuições ao conhecimento do Cretáceo: “O Cretaceo de Sergipe” (1937). Sua última publicação em vida foi “Argillas fossiliferas do Pliocenio do Territorio do Acre” (1937), considerada por ela própria como sua melhor obra.

Seus últimos trabalhos exibem o conhecimento de uma paleontóloga completa, de visão e interesses amplos, abrangendo a fauna e flora fóssil, em particular do Mesozóico. Muito mais reverenciada no exterior do que por seus conterrâneos que, quando muito, limitam sua contribuição aos moluscos do Terciário, Maury morreu de câncer em Yonkers em 3 de Janeiro de 1938, três dias antes de completar 64 anos, sendo sepultada no dia do seu aniversário no cemitério de Cold Springs, NY.

“The harbour of Rio de Janeiro is unsurpassed. You enter as it were a massive gateway guarded by magnificent bosses of granite, while in the far distance the Organ Mountains rise up to ten thousand feet, the heighest peak being: “The Finger of God.”

Maury

Para saber mais:

  • Reeds, C. A. 1939. Memorial to Carlotta JoaquinaMaury. Proceedings of the Geological Society of America, [para 1938], 157-168.
  • Creese, M. R. S. 2007. Fossil hunters, a cave explorer and a rock analyst: notes on some early women contributors to geology. Geological Society, London, Special Publications, 281(1), 39-49.
  • Arnold, L. B. 2009. The education and career of Carlotta J. Maury: part 1. Earth Sciences History, 28(2), pp. 219-244.
  • Arnold, L. B. 2010. The education and career of Carlotta J. Maury: part 2. Earth Sciences History, 29(1), 52-68.

Deixe um comentário